terça-feira, março 31

Soneto romântico-metafórico da simples coisa

Tu és, ó minha amada,
Meu exagero [de romantismo]
E entre nós há um abismo
Coberto em tua mão gelada.

Teus braços são galhos tristes
[Da árvore que o outono castiga]
Foges ao vento antes que eu consiga
Fazer-te parte de tudo o que existe.

Tua face é tão lisinha!
Que quanto te olhas no espelho
Divide o azul [do mar vermelho]
Faz de águia a andorinha.

Teus cabelos picotados
Demonstram em si a rebeldia
[E exalam uma alegria]
Tão estranha aos mal-amados.

Por fim então, ó minha amada,
Só uma simples coisa te peço,
Que não termines tu onde começo
E sigamos [juntos] a tortuosa estrada,

Ao amor, e não ao sucesso.



neoqeav

Quase racionais.

Olá caros não-leitores.
Já faz algum tempo que não leh escrevo nada mas é porque não tenho tido ânimo algum para coisa alguma, mas vamos ao que interessa, ou ao que não interessa, que seja, o texto.
Nós humanos nos consideramos racionais, pois sabemos nos reconhecer em frente ao espelho, temos polegares opostos, criamos materiais, com esses materias criamos ferramentas, com essas ferramentas criamos outros materiais, com essas ferramentas e materias criamos casas, prédios, cidades, e assim por diante. Também desenvolvemos ciências, na matemática descubrimos como calcular tudo a nossa volta, como transformar tudo o que conhecemos em números, sabemos o quanto mede, o quando pesa, o quão denso é, o quão largo é, ou quão tudo é, sabemos também milhares de algarismos inimagináveis por qualquer outro ser que habite nosso pequeno planeta. Nas ciências biológicas, catalogamos milhões de espécies, conhecemos nosso corpo em todos os ângulos e funções possíveis, e assim por diante. Na química, sabemos a fórmula de tudo o que nos cerca, a quantidade de matéria, o tipo de matéria, a substância, a densidade, o estado físico. Enfim, somos mesmo muito inteligentes, ou, como adoramos dizer, racionais!
Porém, somos tão, mas tão racionais, que matamos uns aos outros por pedaços de papel, dos quais sabemos a fórmula, o tamanho, a densidade, a matéria, temos a ferramenta pra produzi-los, e mesmo assim matamos milhares de nós mesmos, e de outras espécies que tanto catalogamos. Esses pedaços de papel se chamam dinheiro. E pelo dinheiro, nós estamos acabando com tudo o que estudamos. Estamos acabando com a camada de ozônio e suas moléculas, mols, matérias; acabando com as árvores, e suas espécies, filos, classes, famílias. Estamos acabando com os rios, e suas densidades, composições, comprimentos, nixos. Estamos acabando com o ar, e seus gases, líquidos, elementos. Estamos acabando com os animais, seus reinos, suas células, seus genes. Estamos acabando com o planeta, e tudo o que está dentro dele. Nossas ciências, nossas filosofias, nossas religiões, nossos Deuses, nossa literatura, nossa gramática, nossas sociedades, nossas civilações, nossa política, nossa economia, nossas cidades, nossas matérias, nossas ferramentas, nossa matéria para fazer ferramentas, nossas ferramentas para fazer cidades, nossas cidades para vivermos dentro, para gerarmos industrias, com o intuito de gerar com o motivo de estarmos acabando com tudo isso. Estamos acabando com o dinheiro.
Cruj Cruj Cruj, Tchau.